domingo, 9 de dezembro de 2007

"A Arte torna a vida suportável"


“A Arte torna a vida suportável”: a frase, atribuída ao filósofo alemão Friedrich Nietzsche, define a importância da Arte na existência humana. Para o pensador alemão, apenas as “escapadas da realidade”, a fim de mergulhar no universo artístico, propiciam ao ser humano a estabilidade necessária para suportar as adversidades cotidianas do mundo real.

Se é realmente insuportável viver num mundo sem Arte, então, o tema deveria ocupar espaço preferencial no rol das preocupações daqueles que refletem sobre os problemas da sociedade contemporânea, pois, ao que se percebe, pouco a pouco, mais e mais pessoas vem sendo alijadas de qualquer contanto – mesmo o mais simples que seja – com a Arte.

E, o que é mais preocupante: a exclusão do contato de amplos seguimentos populacionais com o universo artístico tem sido um processo histórico: que iniciou-se com a “divinização” do artista (e, por conseguinte, da sua obra), o que de imediato inibiu no “homem comum” sua capacidade natural de produzir Arte...

Uma vez “divinizado”, o artista foi sendo alienado de sua humanidade e sua obra adquirindo uma espécie de fetiche, que foi rapidamente transformado pelo mercado em Capital. Assim, o “homem do povo”, que já se vira inibido de produzir Arte – por não ser “artista” e sim “camponês” ou “operário”, isto é, trabalhador – se viu também impedido de adquirir a Obra de Arte produzida pelos, agora “semi-deuses”, artistas; pois, não tinha excedente de capital para fazê-lo.

Mas, foi por volta dos anos trinta do século passado que a exclusão do acesso de amplas populações à Arte conheceu sua versão mais agressiva: a “indústria do entretenimento”.

Começando pelo Cinema (que teve em Hollywood sua principal trincheira), paulatina, mas, agressivamente, o “mercado da diversão”, tal qual um Midas moderno, transformava em “entretenimento” toda a linguagem artística que tocava... e, aos poucos a “cultura de massas” eliminava dessas mesmas “massas” qualquer vestígio acesso à Arte que pudesse ainda subsistir.

Foi assim que o Cinema virou entretenimento e que, por isso mesmo, os filmes, desde então, valem o quanto pesem suas bilheterias – ao invés de serem mensurados pela visão do diretor acerca de um fenômeno e pela sua conseqüente forma de apresentá-lo ao público. Foi assim, também, que as Artes Plásticas transformaram-se em “artes réplicas”; e é por isso que o grande público não tem o menor conhecimento sobre um pintor ou escultor contemporâneo: é mais lucrativo replicar as obras de pintores ou escultores mortos num passado distante e vendê-las aos milhares nas prateleiras dos supermercados: assim, todos temos nossa própria cópia da Mona Lisa (Monalisa) na parede e nosso “Rodin” particular na varanda.

Recentemente a “indústria” conseguiu transformar em “entretenimento” inclusive a Literatura: e o que se comemora como um aumento do número de leitores, devido ao recrudescimento dos negócios editoriais no mundo inteiro, nada mais é do que a substituição da Arte Literária pelo abominável mercado da “auto-ajuda”... ou do descarado folhetim comercial, endereçado, apenas, aos disponíveis a uma leitura sem conteúdo... ao “preço de mercado”.

Mas, parece que foi a Música o ramo artístico mais degradado pela “indústria do entretenimento”. A Música! Justamente a Música, considerada por Platão como a Arte verdadeira (uma vez que todas as outras seriam mímesis) atingiu, com o caráter de “entretenimento”, o estágio mais vilipendioso da degeneração artística. Isto porque, a cópia da Mona Lisa ou de “O Pensador”, definitivamente, não são Obras de Arte, porém, são clones dessas; mas, o que se chama de “tecno”, de “brega”, de REP, de “Axé”, são o quê?

Da forma com a qual a “indústria do entretenimento” se apoderou da “cultura de massas” é bem possível que um sujeito, nos tempos atuais, nasça, cresça, envelheça e morra sem ter tido qualquer contado com a Arte. E, aí se encontra a preocupação que motiva este artigo: é preciso proporcionar a todos “uma vida suportável”. Neste sentido, acredito, o acesso ao universo artístico – desde o reconhecimento ao contato com a Obra de Arte – necessita tornar-se um tema de discussão pública; e a definição governamental dos orçamentos estatais a serem empregados nessa área apresentarem prioridades equivalentes aos destinados a áreas como saúde, educação ou segurança.

1 Comentários:

Blogger Unknown disse...

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10 de agosto de 2020 às 16:03  

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