quarta-feira, 8 de agosto de 2007

A Imprensa pernambucana e sua “vocação” à “direita”.


O último aspecto relevante a ser especialmente analisado acerca das “lutas de julho”, diz respeito ao papel “estratégico” que assumiu a cobertura da Imprensa pernambucana sobre os movimentos reivindicatórios dos servidores públicos.

De um modo geral e sem que sejam registradas quaisquer alterações dignas de destaque, a cobertura dos jornalistas pernambucanos se configurou de duas maneiras distintas: uma; induzindo o Governo de que há uma “pressão popular” fundamentada nas diversas “promessas de campanha” do candidato Eduardo Campos, as quais, por não serem cumpridas pelo então Governador Eduardo Campos legitimavam as mobilizações dos servidores e garantiam, também, o apoio popular a estas. A outra, quando do recrudescimento dos movimentos em questão, assumindo um caráter eminentemente censor dos movimentos, os quais, segundo a tendência geral dos editorias locais, “prejudicavam apenas os mais penalizados pelos problemas estruturais” tanto da saúde como da educação, ou seja: O POVO.

De uma forma ou da outra, ficava evidente a tendência “direitista” da imprensa local, uma vez que, no primeiro perfil demonstrado, ou seja, quando a Imprensa induz o Governo de que há uma “pressão popular” admitindo a hipótese da legitimidade dos movimentos paredistas, não nas graves condições de trabalho e de recursos humanos vivenciadas pelos segmentos profissionais em mobilização, mas, no descumprimento das “promessas de campanha”, tal postura indica, subliminarmente, a perspectiva da “punição” do Governo (e, por conseguinte, do Governador) por haver elaborado um programa de governo “à esquerda”, ou “popular”. Isto é, age a Imprensa como uma espécie de “oráculo balizador” à “direita”, o qual decreta com todas a letras: “estás pagando por ter apresentado um programa de avanços sociais e políticos incompatível com a lógica administrativa neoliberal. Ao prometeres avanços, criaste um clima de expectativa por suas materializações: agora, pagas por ter instigado o povo ao desejo da solução dos problemas”. Ora, mas esta é, talvez, a mais agressiva postura de “direita”, uma vez que “sugere” que programas de “esquerda” não sejam sequer apresentados, sob pena de “despertarem do sono letárgico neoliberalista” o povo; os trabalhadores; os sindicatos...

Mas, foi o segundo perfil, o que expôs uma Imprensa, não apenas de “Direita”, mas, também CÍNICA.

Com manchetes do tipo: “Justiça determina volta imediata ao serviço”, sobre a determinação judicial, à época ainda interlocutória, contra a greve dos professores, os jornalistas locais alinhavavam toda sorte de argumentos falaciosos, os quais buscavam fundamentos no “sofrer do povo” para legitimar a derrocada do movimento; como se tal sofrer fosse produto das greves e não da gestão pública... Como se a Pauta de Reivindicação dos referidos movimentos não visasse, justamente, a erradicação de tal sofrer... Como se os trabalhadores reivindicantes não fosse, também, “povo sofredor”... e, finalmente, tentando inverter o sentido do embate que se travava: de Trabalhadores X Governo para Povo X Trabalhadores.

Não parece haver, porém, uma articulação institucional que determine tal comportamento. Ou seja, as posturas impressas pelos jornalistas em seus artigos/matérias não parecem serem fruto de qualquer determinação patronal ou governamental (em nenhum dos casos apresentados acima), antes, o produto da maior invenção metafísica comprovadamente arquitetada pelo homem: a ideologia (aqui referida no sentido marxista do termo: “falsa consciência”).

A partir dos efeitos da ideologia, todos nós somos levados a assumirmos os valores da classe dominante como se fossem nossos, ou mesmo, como se nos beneficiássemos da manutenção destes. Este fenômeno faz com que, conforme o presente caso, jornalistas, os quais, em Pernambuco, a quase uma década não efetuam qualquer movimento reivindicativo, que, por conta disso, perderam conquistas históricas como por exemplo, piso salarial; este mesmos jornalistas que só se interessam em focalizar a desestrutura dos serviços públicos em situações de caos; estes jornalistas se arvoraram em evocar o nome do povo para esboçar toda a sorte de crítica aos movimentos reivindicativos, prestando, com isso, um excelente serviço ao Governo, conforme observamos.

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