quarta-feira, 12 de maio de 2010

A CRISE ECONÔMICA NA GRÉCIA E A SOLIDARIEDADE DO CAPITALISMO.


Por Breno Rocha


Todos temos acompanhado (com apreensão) o desenrolar das consequências de mais um fiasco no "novo" modelo econômico mundial: a globalização.

Desta vez, a vítima é o secular povo grego.

Fruto da submissão política de seus governantes aos ditames da Comunidade Econômica Européia, os gregos, agora, amargam o cenário caótico da resseção econômica, que lhes trás desemprego, fome, violência... e, como sempre, as principais vítimas são os trabalhadores mais humildes: que nunca são consultados sobre as políticas econômicas a serem implantadas, mas que, invariavelmente, são vítimas ulteriores dessas.

Dado o agravamento da crise na Grécia - que trouxe como greves gerais, repressões violentas e morte - o "mundo capitalista" (leia-se União Européaia, Banco Mundial, FMI e afins) mobiliza-se rapidamente para socorrer o país berço da Filosofia ocidental, com uma ajuda financeira que tem sido qualificada pela imprensa especializada de "SEM PRECE4DENTES NA HISTÓRIA".

Nada modestos 750 bolhões de euros, ou, para quem preferir, 970 bilhões de dólares, serão despejados na economia grega a fim de remediar, ou mesmo, dissipar o "Caos" estabelecido nos últimos meses. 940 bilhões de dólares que dissiparão cortes nos postos de trabalho, que garantirão políticas compensatórias, que pagarão seguros-desemprego; e, é claro, que também socorrerão bancos, que compensarão perdas nos investimentos privados... (porque o capitalismo não pode perder a oportunidade de assegurar seu fundamento mais precisos: o lucro!).

Toda essa cantilena, se ouvida sem a necessária atenção, pode não ser devidamente compreendida: o que há por trás dessa recorrente solidariedade capitalista? Num mundo onde "quem não tem competência não se estabelece" e no qual "a concorrência induz à eficiência", por que socorrer governos e países que investiram mal os seus recursos? Talvez, só mesmo o exemplo da Grécia para nos indicar a resposta mai "ontoçógica" para o "fenômeno" econômico da solidariedade capitalista.

Hesíodo (VII a.C) quando difundiu sua Teogonia estabeleceu 04 (quatro) deuses fundamentais (elementares): Caos era um deles. "No princípio era o Caos. O vazio, a matéria informe, a desorganização total. Desse caos primordial surgiu Gaia..." proclamou Hesíodo nos seus primeiros versos do seu poema-revelação.

A idéia de que o caos é "criador", é grega: o entendimento de que o caos representa a possibilidade do "novo", é filosófico; a certeza de que o caos pode produzir o inusitado, é científica¹; aq confiança no caos como tática para a verdadeira e definitiva transformação social, é Política.

Eis, pois, que, assim como a Hesíodo, as "musas" nos revelam o que nutre a solidariedade capitaqlista: O MEDO DO CAOS.

Do caos no Brasil, no México, na Argentina, na Ásia, nos Estados Unidos da América, ou, mais recentemente, na Grécia, pode ser "criado" o "inusitado", o "novo", o "transformador": um sistema econômico "diferente" do imposto pelo capitalismo... que, de fato, seja eficiente, solidário, livre das cíclicas perturmbações e crises do modelo em voga. Um risco que o capitalismo mundial não pode correr!

O socorro aos países em crise econômica por parte dos organismos do capitalismo mundial, então, não significa contribuir para a felicidade, a estabilidade, nem muito menos para a liberdade de seus cidadão; antes, tem o intento de reforçar-lhes as cadeias, garantido-lhes a eternidade de Prometeu, associada, desta vez, ao destino de Sísifo.

As crianças gregas desta geração, apesar de tudo, agradecem ao socorro atual; mesmo que este se transforme em dívida a ser paga com suor e sangue no futuro. Este é um dos axiológicos problemas da dialética política: para lutar amanhã é preciso se manter vivo hoje... enquanto isso, "Caos" aguarda no "éter"...


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¹ Teoria do caos é a teoria que explica o funcionamento de sistemas complexos e dinâmicos. Para a Física e a Matemática, em sistemas dinâmicos complexos, determinados resultados podem ser "instáveis" no que diz respeito à evolução temporal como função de seus parâmetros e variáveis. Isso significa que certos resultados determinados são causados pela ação e a intereção de elementos de forma praticamente aleatória.

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