sexta-feira, 11 de maio de 2007

Um outro olhar sobre Bento XVI.


Um outro olhar sobre Bento XVI.


Por Breno Rocha.


Estabeleceu-se uma grande controvérsia sobre a visita do Papa Bento XVI ao Brasil. Até parece que os falastrões se aproveitaram da visita para disparar todo o repertório de um “senso comum” ideológico (no sentido Marxista da expressão) que só repete, fecunda e cristaliza o interesse histórico da burguesia.

Ás vésperas da Revolução Francesa, Denis Diderot (1713 – 1784), um dos “enciclopedistas”, propôs e defendeu a separação entre a Igreja e o Estado, fundamentando o que hoje se transformou numa unanimidade; o “Estado Laico”, e declarou: “a miséria do mundo só irá acabar quando o último rei for enforcado nas tripas do último padre”.

E o que vemos, ou melhor, ouvimos amiúde da boca de setores “intelectualizados” da imprensa e de algumas organizações de defesa de direitos das minorias políticas nesses últimos dias tem sido justamente a reprodução (às vezes) amenizada dessa ideologia iluminista. Ou seria melhor dizer, burguesa?

Interessante pois, é constatar que a revolta, disfarçada de indignação, contra Bento XVI não se reproduz contra a Rainha Elizabeth, da Inglaterra, o Príncipe Charles, seu filho, a Princesa Estéfane de Mônaco – cantada em versos e prosa – ou qualquer outro Monarca que se dignou a visitar nossa pátria amada.

Mas, essa “distorção” na ideologia burguesa primordial, que determina contemporaneamente o estripamento de padres (ou, do que eles representam) e a tolerância aos reis tem uma explicação muito racional (ou, bem iluminista): os reis se submeteram ao “Mercado” e, por isso, se fizeram em exóticas figuras toleráveis, evitando assim seus, outrora desejados, estrangulamentos. Eles não mais ameaçam a burguesia com seus exércitos, nem com seus títulos nobiliárquicos, os quais podem até ser comprados pelos burgueses.

Já os padres...

Como posso amar meu semelhante e explorar sua mão-de-obra ao mesmo tempo? E enriquecer a partir da exploração do seu trabalho, ou da sua necessidade por um produto que tenho de sobra? Como posso acumular riqueza se devo “repartir o pão”?

A religião, hoje, se faz numa das últimas trincheiras contra a ideologia burguesa. Isto, deixemos claro, não a isenta de ter sua própria ideologia. Isto é, não estou negando que a religião tenha seu componente ideológico e que este não seja, também, uma ilusão etérea da realidade factual.

Mas, também é fato que essa ideologia se opõe diametralmente à ideologia burguesa; aliás, sempre se opôs.

É claro que a burguesia também inventou sua religião, a qual, seguindo estritamente os postulados darwinistas, fundamenta-se, principalmente, na busca à prosperidade... ao progresso. Vide, pois, Max Weber e sua “Ética protestante e o espírito (que neste caso deve ser entendido como “cultura”) do capitalismo”, ou então o “Evangelho”, segundo Kardec.

Mas, cristianismo e islamismo hoje são empecilhos éticos (e em alguns casos também bélicos) para que a ideologia burguesa se consolide exclusivamente. Esta, ainda precisa disputar espaços políticos com aqueles.

É neste contexto, pois, que chega ao Brasil Bento XVI: como um líder espiritual que disputa corações e mentes com um novo e implacável “deus”: O MERCADO!

Também, como o único Chefe de Estado do mundo atual que foi eleito e governa alheio as pressões do Capital.

Essa duas características deveriam ser ressaltadas e, no entanto, são completamente desprezadas em prol de uma discussão eminentemente estéril e hipócrita. Afinal, uma sociedade que almeja que suas filhas casem virgem e que seus filhos sejam varões, só mesmo por hipocrisia pode criticar um líder religioso que prega a castidade até o casamento e condena o casamento civil entre pessoas de mesmo sexo. Aliás, o que se esperava de um líder religioso? Que pregasse: “irmãos, vamos praticar o amor livre desde a adolescência e sigamos felizes na nossa suruba”? Este não seria um líder religioso, seria, talvez, um hippie saído de algum festival dos anos 70!

E ainda, sob que bases se pode criticar o “protocolo de intenções” apresentado por Bento XVI ao Presidente Luiz Inácio? – não chamo mais esse cidadão de “Lula”, pois não quero intimidades com ele. Não é isso que fazem os Chefes de Estado? Isto é, apresentam protocolos de intenções recheados de propostas de interesse direto e imediato dos seus países junto aos países visitados. Ou não foi isso que George W. Bush veio fazer por aqui: discutir os interesses do seu país?

Há, já sei, você é daqueles que defendem as pesquisas com células-tronco, o uso de embriões humanos em pesquisas científicas, o direito ao aborto antes dos quatro meses de gestação, o sexo antes do casamento, o casamento depois do casamento, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, as missas em português e coreografadas, a legalização das drogas de menor potencial psicotrópico..., e acha que Bento XVI é conservador e ultrapassado porque é contra tudo isso? Pois eu tenho uma informação preciosa para você: ele não é conservador, ele é Papa! Um líder religioso, não um “band lider”, um “astro de Hollywood” ou um “mega star” das artes plásticas.

Sua mensagem está em sintonia com os interesses históricos e políticos da instituição que dirige. Além, é claro, de ser um metafísico muitíssimo bem conceito, o que significa que suas reflexões estão focadas no “ser” e não no “parecer”. Foco este, inclusive, que deveria nortear, pelo menos minimamente, a opinião geral; assim, poderíamos evitar ficar repetindo ideologias tão antiquadas e defendendo, em geral, interesses que nunca foram legitimamente os nossos.

1 Comentários:

Blogger Denilson disse...

Breno,

Sinto muito. Misturas as coisas para tentar mostrar um Bento XVI que não existe.

Aliás, dê-me licença para responder a uma frase de sua autoria com outra muito do seu gosto (pelo menos uma ou duas décadas atrás):

Frase 1: "Pois eu tenho uma informação preciosa para você: ele não é conservador, ele é Papa! Um líder religioso, não um 'band leader', um 'astro de Hollywood' ou um 'mega star' das artes plásticas" (Breno Rocha, 2007).
Frase 2: "Descobriste o Brasil!" (Breno Rocha, s/d, comunicação pessoal).

Desculpa aí, mas a tese de que a Igreja é e, pior de tudo, que ela "sempre foi" contra o Capital, passa do aceitável.

A história dessa instituição nega tudo o que disseste. E não estou falando como ex-católico.

Tenho o maior zelo por alguns preceitos cristãos, acredito-os importantíssimos na formação moral de pessoas preocupadas com a transformação do mundo, como deve ter sido o Cristianismo em seus primórdios.

Mas eu e você somos testemunhas de como as pessoas convivem com a exploração de seus semelhantes sem se incomodar com a contradição entre essa situação e seus preceitos religiosos (não somente religiosos, estou exemplificando, não exaurindo).

Nem as que se beneficiam da exploração, nem tampouco as que dela são vítimas. Para as primeiras, vendiam-se indulgências e vendem-se hoje dízimos como se indulgência fosse; para as demais, "só depois de entregar o corpo ao chão" (Gilberto Gil em "Procissão") como "recompensa" terão o céu.

Qual foi a posição da Igreja no golpe de 1964? As passeatas "com Deus, pela Pátria e pela Família" representaram um empecilho ao Capital? Muitos são os casos de representantes do clero engajados nas lutas dos trabalhadores. Mas isto não é, nem de longe, o viés dominante na Igreja.

Daí que apontar Bento XVI como papa conservador, etc. embora seja uma tautologia, serve pra mostrar que os próceres da Igreja não a permitem insurgir-se contra o Capital, não.

Por favor, eu não estou dizendo que todos os que bradam a favor ou contra Bento XVI têm pensamento uníssono. Isso não ocorre.

Os pontífices católicos são conservadores e defendem essas posições tão atrasadas exatamente porque a instituição da qual eles são líderes (não "band leaders") tem interesses na manutenção do "status quo".

Portanto, o paradoxo não está em dizer que ele é conservador; quem alega o oposto é que tem diante de si um desafio lógico-filosófico-histórico-político de titânicas proporções.

Continuo sendo um admirador de tua "intervenção no mundo", de tuas idéias e adorno isto com alto apreço pela tua pessoa. Mas, como sempre, sei que podemos divergir fraternalmente sem perigo de qualquer abalo (sísmico? Sisífico?).

Um abraço,

Denilson Laranjeira

13 de maio de 2007 às 08:54  

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