domingo, 6 de maio de 2007

Royal e Sarkozy revivem embate que teve início no século XVIII.

No próximo domingo o povo francês irá às urnas escolher seu próximo presidente e o fato de poder ser, pela primeira vez na história daquele país, uma presidenta é, talvez, o único detalhe inusitado na eleição francesa.

Com efeito, o embate entre Ségolène Royal e Nicolas Sarkozy reproduz historicamente a polarização entre esquerda e direita que iniciou-se na França depois da Revolução de 1789, quando o poder, na então recente democracia, era disputado – e alternado – entre Jacobinos e Girondinos; os primeiros se evocando representantes do povo (dos trabalhadores) e os outros, da já poderosa burguesia.

Royal e Sarkozy se identificam com a história da dialética na política francesa não apenas por se adornarem dos títulos de “esquerda” e “direita” – ela do Partido Socialista Francês e ele da “União Pelo Movimento Popular”. A identificação vem da comparação direta de suas plataformas políticas.

Royal defende a redução da jornada de trabalho sem redução de salários como forma de combate ao desemprego, promete conceder cidadania francesa aos imigrantes após 10 anos de permanência no país, afirma que intensificará o combate à violência contra as mulheres, afinal, se reivindica feminista, e garante o investimento em fontes de energias renováveis. Pauta que, além de lhe render a simpatia das minorias políticas como imigrantes e ecologistas, justifica-lhe coerentemente a herança do título de “candidata de esquerda”, no país que inventou para a política os termos “esquerda” e “direita” conforme os conhecemos hoje.

Por sua vez, o “midiático” Sarkozy começou a tomar notoriedade mundial (de forma negativa) quando dos protestos dos subúrbios de Paris, em 2005. Na ocasião chamou publicamente os manifestantes de “escória” e declarou que era preciso “lavar a periferia da cidade”. Declaradamente simpatizante da política norte-americana, tem como plataforma de governo a expulsão dos imigrantes ilegais, o controle da entrada de novos estrangeiros, fixação do teto fiscal de 50%, contrato de trabalho que permita a ampliação das horas trabalhadas com ampliação do salário, e ainda, se diz simpático à ampliação do uso da energia nuclear. Advogado especializado no Direto à Propriedade, Sarkozy se define como de “direita”.

As últimas notícias recolhidas na internet dão conta da vantagem de Sarkozy nas pesquisas eleitoras, mas, apresentam uma redução de 1,5 pontos percentuais nessa vantagem que era de 54% e agora é de 52,5% de intenções de voto, enquanto que Royal aparece com 47,5%, todos esses no universo dos que já decidiram em quem votar. Ocorre que a mesma pesquisa aponta 22% de indecisos, o que nos leva a acreditar que o resultado eleitoral das eleições francesas ainda é indefinido.

Assistiremos, no domingo, mesmo que à distância, mas uma vez a disputa entre esquerda e direita na França. A clássica luta entre as forças sociais: Trabalho e Capital. De um lado a redução da carga horária de trabalho, buscando inserir mais trabalhadores no mercado e proporcionar maior repouso e conforto aos que dispõem de emprego; de outro a redução do imposto, buscando a garantia do aumento do lucro dos capitalistas, como forma de atraí-los a investir onde terão maiores rendimentos...

A clássica luta entre o homem e o lucro, fundamentada na axiológica reflexão: o sistema existe para garantir o bem-estar social de todos, ou para garantir a felicidade dos mais espertos?

Por isso a eleição de domingo também é importante para nós. A bela Royal enfrentará o televisivo Sarkozy, voto a voto e, de “pano de fundo”, estaremos assistindo mais um embate entre Jacobinos e Girondinos, entre Rousseau e John Locke... Assim sendo, o resultado desse escrutínio poderá revelar uma tendência na política mundial que signifique, para nós trabalhadores, “um passo á frente ou dois passos atrás”.

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